Por Dayana Rosa (IEPS), Raylayne Bessa (IEPS), Luciana Vasconcelos Sardinha e Thais Junqueira
O Estado deve promover a saúde dos idosos, enfrentando um dos principais problemas para essa faixa etária, que são as doenças crônicas não transmissíveis.
Até 2025 o Brasil terá a quinta maior população de idosos do mundo e isso nos leva a refletir se o futuro do país é mesmo dos jovens, como costumamos ouvir. Se acreditamos que os brasileiros devem viver mais e melhor, a sociedade e o governo devem tomar atitudes para promover saúde entre os mais velhos, enfrentando o principal vilão para essa faixa etária que são as DCNT (Doenças Crônicas Não Transmissíveis).
As DCNT vêm se destacando como um importante desafio de saúde pública há muitos anos, principalmente pela morbidade e mortalidade que causam. No Brasil, as DCNT foram responsáveis, em 2019, por 41,8% do total de mortes ocorridas prematuramente. Estas doenças podem ser prevenidas, minimizando os impactos nos hábitos de vida e bem-estar das pessoas e de suas famílias e a grande carga que trazem para os sistemas de saúde pública e para a economia do país.
O SUS é o maior sistema público de saúde do mundo e, desde a sua criação, proporcionou enormes avanços no acesso e no cuidado às pessoas com DCNT, impactando diretamente na expectativa de vida dos brasileiros. Mas viver mais não significa necessariamente viver melhor: questões como a continuidade e o estímulo ao tratamento e escolhas responsáveis durante processos de mudança de estilo de vida tornam esta missão cada vez mais difícil, sobretudo entre as populações mais vulneráveis. Além disso, por serem doenças mais comuns em idosos, ações de prevenção e promoção à saúde são urgentes para enfrentar o desafio da dificuldade de acesso dos mais velhos não apenas aos serviços de saúde e a medicamentos, mas também a outros direitos como a locomoção segura, alimentação saudável e boas condições de saúde mental.
O SUS é o maior sistema público de saúde do mundo e, desde a sua criação, proporcionou enormes avanços no acesso e no cuidado às pessoas com DCNT, impactando diretamente na expectativa de vida dos brasileiros
Dados inéditos do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em tempos de pandemia) revelaram que, em relação aos jovens, os idosos têm três vezes mais hipertensão arterial (prevalência de 59,2%) e cinco vezes mais diabetes (prevalência de 25%). Se por um lado temos mais diagnósticos de DCNT entre essa parcela da população, por outro, temos melhores resultados para alguns fatores de risco e proteção para estas doenças nessa faixa etária.
Essa parcela mais velha da população consome menos álcool, tanto com relação à frequência semanal (três vezes ou mais), com prevalência de 5%, enquanto entre os adultos é de 8,7%, tanto quanto quando se fala de quantidade. O Covitel considerou que fizeram consumo abusivo de álcool aqueles que, nos 30 dias anteriores à entrevista do inquérito, haviam consumido quatro ou mais doses (mulher) ou cinco ou mais doses (homem) de bebida alcoólica em uma mesma ocasião. Entre os idosos, 6,6% revelaram consumo abusivo, enquanto a prevalência saltava para 23,9% entre os adultos.
Já quando se trata de marcadores de alimentação saudável, 55% dos idosos consomem frutas cinco ou mais vezes na semana, enquanto 34,5% dos adultos têm esse hábito. Idosos também consomem menos refrigerantes que os mais jovens. 9,3% deles consomem a bebida açucarada cinco vezes na semana ou mais, enquanto a prevalência é de 18,5% entre os adultos.
Embora alguns indicadores relacionados aos fatores de risco estejam melhores nos idosos se comparados aos dos mais jovens, muito ainda precisa ser melhorado. Por exemplo, está muito longe do ideal o fato de que pouco mais da metade dos idosos esteja comendo frutas com a frequência semanal recomendada pela OMS. Quando se fala dos jovens, os dados são ainda mais preocupantes, visto que são essas as pessoas que vão ser os idosos dos próximos anos e décadas.
Quanto antes os hábitos saudáveis forem adotados, menores as chances de desenvolver DCNT em estágios mais tardios da vida, quando as pessoas são, muitas vezes, obrigadas a mudar comportamentos para remediar problemas que já apareceram. Como diria a avó de muitos brasileiros, “prevenir é melhor do que remediar”.
Esse dito popular serve também para os governantes que estão por vir no próximo ciclo eleitoral que se aproxima, ainda mais que 2025 está aí e estamos caminhando para uma numerosa população idosa. Por isso, a Agenda Mais SUS, que foi criada com o objetivo de contribuir com o debate público eleitoral e subsidiar a próxima gestão do governo federal para o aprimoramento do SUS, aponta como um dos caminhos a ampliação de recursos e orientação do financiamento para a universalização do SUS; a expansão da atenção primária e a valorização e promoção da saúde mental. Ou seja, mais serviços para todas as pessoas, todos os dias, para viver melhor e sofrer menos.
Assim, a prevenção e a promoção da saúde da pessoa idosa poderão encontrar mais espaço no nosso cotidiano, e muito disso se deve ao fato de que o SUS não é somente o maior sistema de saúde pública do mundo, mas também por exercer a saúde como um direito de todos. As necessidades da população, que vive sim cada vez mais, mas não necessariamente melhor, serão bem atendidas. O SUS não é tão velho assim, quando comparado a outros sistemas, mas já tem muito o que ensinar. Vida longa ao SUS!
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: NEXO (23/09/2022)